Autoagressividade
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“Estou com raiva, mas não consigo falar”
Para iniciar esse texto, vamos contextualizar sobre a agressividade, que é o ato de ser agressivo. Podemos ser agressivos com o outro, mas também podemos agredir a nós mesmos. Chamamos isso de autoagressividade.
Você acredita que a agressividade é algo negativo? Provavelmente a maioria das pessoas vai responder que sim, mas a verdade é que a agressividade é uma força positiva que todos nós temos e que nos faz caminhar para onde queremos. Precisamos dela para tomar atitudes e realizar nossos sonhos.
O problema ocorre quando essa força está desequilibrada, tornando-se uma violência e prejudicando tanto o agressor quanto o agredido.
Autoagressividade
Você já viveu situações nas quais não gostou de algo, mas não conseguiu se posicionar? Já teve dificuldades para colocar limites no outro? Isso é muito comum e, quando ocorre, nos fechamos e passamos esse sentimento de raiva para dentro de nós. Isso é ser autoagressivo. O que é muito prejudicial à nossa vida física e emocional.
A dificuldade em falar e compartilhar nossos sentimentos pode ter diversos motivos. Há situações, como no trabalho, em que, realmente, precisamos ter um cuidado ainda maior com as palavras e com a nossa opinião. Mas, ainda assim, é importante expressar o que sentimos ou, ao menos, aprender a lidar com esses sentimentos.
Outro motivo que nos faz calar é o medo de ouvir “não” ou de ser criticado. Isso acontece com frequência quando exigimos demais de nós mesmos. Ficamos com a sensação de que estamos dando nosso melhor (muitas vezes, sofrendo por isso), portanto não é justo ouvirmos uma crítica. O sentimento de onipotência fica muito forte e ouvir nossos defeitos pode ser algo muito difícil.
Quando falamos, perdemos o controle do que vai acontecer e isso também pode ser um grande desafio. Quando me coloco em uma situação, estou dando a oportunidade para o outro também se colocar, opinar e concordar ou discordar. Isso pode ser bastante assustador. E se eu estiver errado? Me expus: e agora?
O sentimento de culpa também é muito presente. Muitas vezes, optamos por não falar para evitar o medo dessa culpa. Acreditamos que as relações precisam estar sempre bem, tranquilas, felizes e esquecemos que este cenário não é real. As relações têm muitas nuances, podem ser doces, ásperas, secas, agressivas, entre outras.
É comum repetirmos esse padrão de comportamento nos relacionamentos amorosos, familiares, com amigo ou colegas de trabalho. Criamos a ilusão de que não podemos falar, pois, caso expressemos o que sentimos, não seremos aceitos.
Quando decido me calar, estou fugindo e evitando esse enfrentamento do outro comigo. Começo a me reservar e esconder o que sinto. Mas até que ponto isso vale a pena?
Efeitos da autoagressividade
Quando silenciamos nossos sentimentos, invés de expressá-los, em algum momento acabamos explodindo. Então, nossa resposta emocional será inadequada.
Ser autoagressivo pode causar problemas como gastrite, bronquite, tiques, transtorno de ansiedade, compulsão por comida e até mesmo úlcera.
Comer é a maneira que muitos encontram para engolir o que precisam dizer, mas não conseguem. É a maneira que eles encontram para “colocar para dentro” e buscar alívio.
Para ter uma vida mais leve e autêntica, precisamos aprender a lidar com nossos sentimentos. Precisamos conhecê-los e respeitá-los.
Autoagressividade nos relacionamentos amorosos
No namoro ou no casamento, muitas pessoas sentem medo de perder o outro e podem consequentemente renunciar às suas vontades, opiniões e decidir se anular.
É importante dizer que parte desse sentimento se deve ao fato de termos crescido ouvindo grandes histórias de amor, com vidas perfeitas e irreais. Isso cria a expectativa de que um casal nunca deve brigar, discutir ou discordar. Acreditamos que em uma relação só pode existir sorrisos e alegrias. Mas isso é impossível.
Sentimos medo de magoar o companheiro ou a companheira. Temos medo de não saber falar “de forma adequada” e tememos que falar será destrutivo para o outro. De forma geral, oscilamos entre dois pontos extremos: ou não falamos, ou após muito tempo falamos de maneira exagerada, se tornando uma forma agressiva para o outro (o que também não resolve o problema).
Vivemos em um mundo completamente caótico e se não tivermos conexões sinceras e profundas fica muito difícil viver. Precisamos de lugares onde possamos nos sustentar; onde possamos ter a liberdade de dizer o que sentimos e de ser quem verdadeiramente somos.
O amor não pode ser uma fusão onde me perco no outro. Quando amamos, estamos juntos, porém livres. Isso é o que faz com que você continue sendo uma pessoa única, com suas próprias vontades e sonhos.
Somos feitos de emoção
Ao longo da nossa vida, teremos sentimentos positivos e felizes, mas também ficaremos tristes, com emoções negativas. Não dá para fugir disso e nossos relacionamentos serão afetados de alguma forma. Esse aspecto faz parte do SER HUMANO.
Precisamos lembrar que embates são normais e necessários. É muito utópico pensar que estaremos sempre bem, que não teremos desacordos ou discussões.
A relação com meu namorado ou com minha esposa precisa ser construída. E se for construída sobre “aguentar”, dificilmente será um relacionamento positivo, divertido e saudável.
A união verdadeira tem um nível de profundidade e de intensidade que somente a liberdade de poder ser quem somos pode proporcionar.
Quando deixamos de falar o que sentimos (até mesmo no ambiente de trabalho), perdemos a intimidade com o outro e fragilizamos essa relação. Para conquistar essa intimidade, precisamos aprender a falar o que acontece em nós e também o que nos incomoda de forma adequada. Isso cria uma conexão verdadeira e saímos da superficialidade.
Seja verdadeiro com você
A frase “seja você mesmo” pode parecer um clichê, mas quando não somos nós mesmos, ficamos desencaixados e sofremos. É essencial que você seja coerente com o que sente e com o que pensa, que seja leal com suas emoções.
Para viver uma vida mais leve e feliz, precisamos ter o compromisso de honrar nossos sentimentos - e levar isso muito a sério.
Em algumas situações, pode ser que você não possa falar exatamente tudo o que sente, como no trato com o seu chefe, por exemplo. Mas, mesmo não falando, precisamos resolver de alguma forma, para não deixar os sentimentos de raiva, tristeza, mágoa e agressividade permanecerem em nós.
Encontre válvulas de escape
Para aprender a lidar com esses sentimentos, além de procurar ajuda profissional, você também pode:
- cuidar do corpo, como caminhar ou praticar outro exercício físico;
- tomar uma bebida que goste e que te faça bem;
- escrever o que está sentindo;
- desenhar;
- ligar para algum amigo e compartilhar seu sentimento.
Encontrar essas válvulas de escape pode ajudar a trabalhar com essas emoções. Precisamos tentar “tirá-las” de alguma forma, ao invés de apenas engoli-las a todo momento.
Prepare-se e converse
Para não deixar a emoção falar mais alto, é importante se preparar para uma conversa sincera.
Lembre-se que as relações podem nos adoecer, mas também podem nos curar. Ouça com o coração aberto e, se fizer sentido, não tenha medo de repensar suas atitudes. Através dessa conexão profunda com o outro conseguimos amadurecer a nós e ao relacionamento.
Esteja bem, equilibrado e com o pensamento o mais livre possível. Se formos falar sob o efeito da raiva, da mágoa, certamente falaremos de modo exagerado e, provavelmente, de forma inadequada e com pouco sucesso na comunicação.
Ouça amorosamente. Dê espaço para o outro falar e não fique na defensiva. Lembre-se que ele(a) também sofre, não apenas você. Contribua para ter um diálogo e não uma briga/guerra.
Acolha a opinião do outro. É importante refletir sobre o que está ouvindo, mas lembre-se que os feedbacks não são verdades absolutas. Ouça, reflita, sem deixar que as emoções falem mais alto e você queira, imediatamente, se defender.
Não coloque a culpa nele(a). Fale sempre a partir do seu sentimento - e não a partir da atitude do outro. Conte exemplos, seja específico, diga o que sentiu. Quando atacamos, a tendência do outro é se defender e diminuímos a possibilidade de resolver o problema.
Busquem o ponto de equilíbrio, em que a situação fique confortável para ambos. Todos os envolvidos precisam ceder, e isso é essencial para um relacionamento verdadeiro.
Fale. Sempre. Mas sem criticar, desrespeitar ou agredir. Baixe as defesas e vá de coração aberto.
O mais importante não é fazer o outro mudar de ideia ou concordar com você. Pode ser que ele(a) diga algo que te faça repensar, como pode ser que diga algo que não faça sentido. O que importa é a liberdade de dizer o que sente e estar aberto para ouvir e receber uma resposta. Nem sempre acontece o que você espera.
Aqui, não temos vencedores. O objetivo é encontrar a amorosidade e se posicionar com leveza, para que, juntos, possam encontrar formas de melhorar a relação e se não for possível é o momento de repensar.
Se preparar para essa conversa é a melhor maneira de conseguir um diálogo verdadeiro.
Seja corajoso
Cuidado para não deixar que a situação cresça e fique insuportável. Sempre que algo incomodar, te machucar, não tenha medo de expressar o que sente.
Lembre-se: no relacionamento genuíno, precisamos dessa capacidade de acolher a dor do outro.
Muitas vezes, o outro nem faz ideia do que nos incomoda. Podemos pensar que “ele(a) devia ter percebido”. Mas acredite: o que é muito claro e óbvio para você, não é para o outro. Fale.
Se você não puder falar, lembre-se que precisamos minimamente aprender a lidar com esse sentimento. Busque ajuda profissional, cuide de você e tenha sempre válvulas de escape, para lidar com suas emoções o melhor possível.
Saber qual a escala e o limite do que conseguimos aguentar é algo muito particular. Mas o essencial é ser coerente com seus sentimentos e entender que você não precisa guardar tudo. Você pode (e deve) falar. O que você sente, o que pensa e o que deseja é importante e também deve importar para quem está ao seu lado. Avalie a forma, o conteúdo e o momento para que ocorra da melhor forma possível.
Indicação: livro “Comunicação Não-Violenta”
Se quiser saber mais sobre o assunto e aprender outros modos de se comunicar, o livro de Marshall B. Rosenberg, “Comunicação Não-Violenta”, apresenta técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais. Com uma linguagem simples, nos leva a reflexões importantes sobre nossas relações e nossos conflitos.






