Compulsão
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“Sei que me faz mal, mas não consigo parar”
Você já sentiu estar exagerando na comida? Engordou demais, precisou mudar sua alimentação por problemas de saúde e não conseguiu? Ou já tentou parar de fumar e começou a fumar ainda mais? E, logo depois, descontou na bebida (álcool e/ou refrigerante)? Começou a se masturbar com mais frequência? Já se sentiu mais ansioso por isso?
Esses comportamentos repetitivos surgem para aliviar uma angústia. Buscamos uma ação que nos traga bem estar imediato, como uma válvula de escape. Essas atitudes trazem a sensação de prazer instantâneo, porém, pouco tempo depois, a angústia volta a aparecer e o ciclo se repete.
Isso pode começar apenas como um pequeno prazer, mas vir a tornar-se algo muito importante e difícil de ser administrado, podendo variar de níveis leves a graves.
Segundo a psicóloga e pesquisadora Rosa Cukier, esse ciclo é recorrente e transforma nossa vida em uma luta constante entre a parte emocionalmente saudável e a parte que sofre.
“Eu quero muito parar, sei que me atrapalha, mas não consigo”
Essa é uma realidade para quem sofre com comportamento compulsivo: perder o controle diante de situações que estão prejudicando sua saúde mental e, na maioria das vezes, sua saúde física. É querer parar, mas não conseguir.
A compulsão pode ser reconhecida quando os hábitos se tornam excessivos, trazendo prejuízos.
Ela pode vir camuflada nos “hábitos”, como gostar muito de tomar café ou até mesmo de consumir álcool. O problema ocorre quando perdemos o controle e não conhecemos ou não respeitamos nossos limites.
É difícil mudar. Então, por vezes, a pessoa troca uma prática por outra: controla a alimentação, mas começa a gastar demais ou exagerar na academia. Na maioria das vezes, a pessoa não percebe que está apenas trocando o objeto (ação).
Vale dizer que esses mecanismos repetitivos podem provocar outros quadros. Por exemplo, a compulsão alimentar pode se desenvolver para um quadro de bulimia, em que a pessoa come e depois vomita o que comeu.
Sem os devidos cuidados, a compulsão pode trazer problemas ainda maiores, não só para a saúde, mas também para os relacionamentos. É comum que os familiares discutam por não entender a necessidade que o outro tem de beber, comer, comprar demais, ocasionando até separações.
Conheça alguns comportamentos compulsivos
Alguns comportamentos em excesso podem evidenciar o problema. Fique atento caso esteja sentindo-se fora de controle na utilização ou consumo de itens como:
- Atividade física
- Cigarro, bebida, drogas
- Comida
- Compras
- Internet
- Jogos
- Pornografia
- Sexo
A compulsão por agradar também é comum. Nesse caso, a pessoa sente um imenso alívio ao agradar o outro. Quando essa sensação passa, ela busca algo que possa fazer para deixar o outro feliz. Pessoas com esse problema têm dificuldades para dizer não, sua vida é colocada de lado para atender o outro e fica exausta com essa dinâmica. Muitas vezes pode aceitar situações/relacionamentos abusivos ou prejudiciais às suas vidas em função da baixa autoestima.
Outro exemplo são as pessoas que cometem pequenos furtos, sem necessariamente precisar daquele objeto, também conhecidos como cleptomaníacos. Existe uma necessidade em roubar aquela peça e, nesse momento, a situação foge de seu controle.
Há também aqueles que sentem a necessidade de trabalhar excessivamente. Eles dão tudo de si para o trabalho, mas nunca é suficiente. O workaholic sempre tem uma desculpa para trabalhar mais: pode ser a necessidade de trabalho, dinheiro, fazer uma viagem ou comprar algo. Seu corpo fica exausto, mas a mente pede por mais.
Precisamos lembrar que a pessoa nessa situação não consegue mudar. Por que alguém faria algo mesmo sabendo que está se prejudicando? Ela simplesmente não consegue parar.
De onde vem a compulsão?
A “busca por esses hábitos” pode ser aprendida por familiares, como, por exemplo, pais ou avós que trabalham muito, adictos ao álcool, jogos, comprar ou comida, e na sua maioria é disfarçado, é visto como natural para a maioria.
Compulsão e perfeccionismo
De forma geral, o perfil de quem tem comportamentos compulsivos é de uma pessoa perfeccionista, onipotente. Ela idealiza um mundo que não existe, busca a perfeição em tudo o que faz e é muito rígida consigo mesma.
O problema é que, quando ela não consegue alcançar esse mundo ideal, vem a frustração, a baixa autoestima, fazendo sentir-se desvalorizada, fracassada, entre outros sentimentos autodepreciativos.
Isso gera sensação de ansiedade, depressão e a necessidade de repetir o ciclo e buscar o alívio de alguma forma, surgindo os comportamentos repetitivos e, com eles, a raiva e a culpa por querer agir diferente e não conseguir. Ela sofre porque não consegue perceber os seus limites.
Busque ajuda
Mudar esses comportamentos, sem ajuda, pode ser uma tarefa muito árdua. Nesse momento, a terapia, o apoio familiar e de amigos, as atividades físicas, e, por vezes, também a medicação, são essenciais para uma mudança de vida.
O primeiro passo é reconhecer que não temos o controle.
A partir desse reconhecimento, é necessário iniciar, com ajuda profissional, uma mudança interna, identificando quais são os fatores/gatilhos que causam os sentimentos desagradáveis (angústia, frustração, depressão, medos, baixa autoestima) e qual a razão para o desequilíbrio que traz a necessidade de aliviar essa dor.
Olhe para suas relações atuais. Perceba quem são as pessoas que te ajudam e quem são as que te prejudicam. Escolher quem vai fazer parte da sua jornada de crescimento e evolução é essencial para conseguir mudar.
Recaídas fazem parte do processo. Persista!
A culpa é um sentimento comum quando vivemos esses ciclos repetitivos, mas é importante que você saiba que, em um processo de mudança, as recaídas são normais e esperadas. Não se assuste, mas elas vão acontecer. Por isso, seja mais leve consigo mesmo. Lembre-se que o rigor não funciona em mudanças verdadeiras (e duradouras) de comportamento.
Para nós, seres humanos imediatistas, e para um mundo onde o fracasso não tem vez, é difícil falar “calma” ou “vá devagar”. Mas, para que seu cérebro reconheça e mantenha a mudança, é preciso ir devagar. O radicalismo não vai funcionar. Mas o acompanhamento psicológico, o apoio das pessoas que amamos, a sua persistência, fará mudanças extraordinárias na sua vida, trazendo a diminuição ou libertação desse ciclo compulsivo e tão prejudicial. Acredite: é possível viver com qualidade, leveza e autonomia.
